O HPV está mudando o perfil do paciente com câncer de cabeça e pescoço
Sequelas deixadas pela doença vêm aumentando casos de suicídio no Canadá e especialista alerta para o risco de um tumor maligno causado por HPV que pode ser prevenido por meio de vacina
O tratamento do câncer na região de cabeça e pescoço pode ser mutilante e deixar sequelas irreparáveis para os sobreviventes. Segundo dados estatísticos, o índice de suicídio em pessoas acometidas por esses tumrores no Canada é o segundo maior entre todos os tipos de câncer. Essa é uma preocupação crescente entre os profissionais da saúde e cientistas, pois o vírus do HPV está mudando o perfil dos pacientes acometidos pela doença nessa região do corpo.
Esse fato será abordado pela Prof. Dra. Sabrina Wurzba, no Encontro Brasileiro de Cirurgiões de Cabeça e Pescoço, em outubro. O alerta da pesquisadora é para o risco no aumento do vírus do HPV em pacientes jovens.
Dra. Sabrina mora atualmente no Canadá e trabalha na pesquisa com o câncer de cabeça e pescoço e tireoide na Faculdade de Medicina da McGill University. Ela é Diretora de Projetos do Instituto Lady Davis – Segal Cancer Center do Jewish General Hospital, onde tem um laboratório que recebe muitos alunos e professores brasileiros para trabalhar nesta área.
Segundo ela, há alguns anos o paciente que apresentava tumor na região da cabeça e pescoço estava associado ao alto consumo de cigarro e de bebidas alcoólicas. Mas, com o advento da infecção pelo HPV, os pacientes que estão desenvolvendo a doença são adultos muito jovens e que muitas vezes nunca fumaram ou consumiram bebidas alcoólicas em excesso.
A professora ressalta que o vírus do HPV entra em contato com a boca por meio da pratica do sexo oral com uma pessoa contaminada. “O vírus se infiltra na mucosa da região de boca e consegue penetrar e alterar o DNA (o material genético) dentro da célula fazendo com que esta célula se multiplique de forma descontrolada e desencadeando a formação de uma massa tumoral maligna”, explica a médica. Pesquisas mostram que o número de parceiros sexuais também tem relação com a exposição aumentada ao vírus do HPV.
A grande maioria dos pacientes, acrescenta a médica, procura o consultório num estágio avançado da doença, quando exige uma estratégia de tratamento mais cautelosa. “O tratamento é baseado na cirurgia combinada com quimioterapia e radioterapia numa região rica em estruturas altamente especializadas do corpo humano, incluindo o cérebro, ossos, músculos, vasos sanguíneos, nervos, glândulas, nariz, boca, dentes, língua e garganta. Todo procedimento invasivo nessa área pode causar uma sequela na região de face e pescoço que chega a ser insuportável para alguns desses pacientes jovens ao pensar em como podem sobreviver com qualidade de vida e se reinserir na sociedade. Então, o que observamos aqui no Canadá é o alto índice de suicídio nessa população específica”, ressalta Dra. Sabrina.
Ela explica que existem vacinas eficazes disponíveis contra o HPV para a prevenção da infecção desse virus que causa o câncer na região de útero e da cabeça e pescoço. “Nossa função é transformar esse cenário, que pode ser facilmente mudado ao compartilhar o conhecimento científico, educar a população, incentivar a vacinação e estimular mais pesquisas nesta área”, conclui Dra. Sabrina Wurzba.